sexta-feira, 27 de julho de 2007

Uma noite apenas e nada mais


uma noite apenas e nada mais

Sempre que as coisas acontecem de uma maneira ou de outra elas acontecem e é partindo desta lógica que seguimos em frente, pé ante pé e vamos.

Pra dizer o que realmente quero dizer eu poderia dar muitas voltas em torno de mim mesmo e não chegar a lugar algum e mesmo assim vocês entenderiam, mas não vou fazer isso porque não é justo.

Se queremos que algo aconteça, sempre dizem, que devemos fazer as coisas ao invés de esperar que os outros façam por nós e porque isso é ou deveria ser o mais certo?

Vejo as coisas de um modo totalmente diferente e este modo de ver a realidade não altera a realidade, mas altera o modo como as pessoas me veêm e o fato de me verem diferente faz com que queiram que eu seja diferente em todas as ocasiões. Sou o maluco que tem que dar cambalhotas no meio do casamento ou sair dançando no velório da tia maricotinha, simplesmente porque as pessoas se acostumaram a me ver como o maluco que faz isso e é isso que elas esperam que eu faça.

Não vou fazer e pronto, simplesmente porque eu não faço isso e mesmo que fizesse, apenas faço ou faria quando tivesse vontade.

São azuis os olhos da margarida ou são margaridas os olhos daquela que fita e passa por mim durante a noite estrelada? Não são meus com certeza, são daquele que conquistou o seu coração e esse não sou eu.

Até seria se naquele dia em que ela saiu com o seu vestido florido eu não estivesse tão ocupado com a montagem do meu quebra-cabeças particular. Ela passou e me convidou a segui-la, queria que com certeza eu a acompanhasse até o lindo lago de flores que havia se formado em baixo da mais frondosa arvore do bairro, mas eu estava por deveras ocupado comigo mesmo para perceber o que ela queria e simplesmente ignorei os seus apelos e suplicas.

Fantasiosamente hoje ela não mais me sorri é claro que por dentro as coisas continuam a acontecer e ela me fita, olha e deseja, mas por fora está de braços com outro e nem sabe que eu existo. O meu coração me diz o que é verdade e o que não é, ele traduz exatamente as palavras que ouve vindas do dela.

Na primavera de alguns anos atrás eu resolvi me declarar mesmo sabendo das inúmeras chances de insucesso que tinha. Foi mais ou menos assim:

"-Posso me sentar ao seu lado ou ainda espera pelo principe encantado?"
"Bom, já se passam das nove e pelo andar da carruagem, digo, pelo andar do seu cavalo, é certo que ele se perdeu e não vem mais. Não vejo problemas se você se sentar."

A partir daí tivemos uma animada conversa sobre o tempo, as mudanças climáticas, o efeito que as mudanças climáticas exerciam sobre as nossas vidas e sobre tudo o mais que o tempo podia render de assunto. Para aqueles que estão pensando que a nossa conversa foi um tédio, ledo engano, ela foi animadissima com pitadas e toques do mais refinado humor britanico.

É claro que não passamos disso e ela se foi depois de longos trinta e cinco minutos de conversa me deixando ali pasmo e admirado por ter conseguido a façanha de conversar com ela por tanto tempo sem sentir as pernas bambas e nem o coração bater acelerado. Realmente e finalmente eu descobri que ela era e vai continuar sendo apenas a menina dos olhos azuis e eu, o cara mais sem assunto do mundo, aquele maluco que dá cambalhotas em velórios e dança em casamentos.

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