sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Abandonado


umbigo 

Não que seja e nem que fosse, porque não vai ser, mas tem que ser.

Poderíamos ficar por horas a fio sem ver o sol que mesmo assim ele estaria lá esperando por nós com todo o seu brilho e esplendor. Poderíamos ficar por horas a fio vendo o sol que mesmo assim não nos cansaríamos e continuaríamos por uma eternidade.

Foi em um desses momentos de contemplação ao sol que ele acordou, caiu da cama e se lembrou que já estava deveras atrasado para ser alguém na vida. Com muito custo colocou um pijama e foi dormir, isso não sem antes, escovar os dentes e se despedir de todos.

Quando ele saiu novamente não disse se ia voltar, apenas se foi e pronto. Fizeram uma festa em sua homenagem e ele adorou isso porque ele sabia que aquela festa era sincera e acontecia de forma espontânea, sempre que ele chegava ou saia de seu mundo particular para se jogar de cabeça no meio do turbilhão de emoções do amor.

Nada mais justo do que perder um dente ou um dedo quem sabe. O que ele não achava justo era perder o humor e a vontade de ser feliz. Copos e copos de café eram jogados no lixo todos os dias, garrafas de vodca e pedaços de pano, tudo isso não podia ser reciclado e nem ao menos usado para conforto próprio e individual. Assim como as voltas que a terra dá em torno do sol servem para alguma coisa, as voltas que ele dava em torno de si mesmo, deveriam também servir para alguma coisa, mesmo que essa coisa não servisse para nada.

Foi fantasiado assim de aprendiz que ele cruzou os portões pela última vez e foi com esse sentimento que ele viu todos irem embora e o deixarem abandonado no meio do nada apenas com as roupas do corpo e uma bola de basquete. Jogando como ninguém, ele fez 30 cestas de 3 pontos e foi campeão de tiro ao alvo, enquanto que o gladiador enchia a cara de bebida falsificada e declarava o seu amor pela bailarina.

No meio da madrugada o gari ainda tentava conquistar a medica, que flertava com o policial e dava risadas com a dançarina, mas tudo isso não sem antes se certificarem de que estavam divinas em suas fantasias da realidade. O típico caso daqueles que fogem de si e acham que assim podem se esconder e viver a ilusão de uma vida feliz e sem maiores complicações.

Ele também pensava assim e por isso mesmo se escondeu no próprio umbigo enquanto o cérebro fazia de tudo para esquecer o dia em que o sol desapareceu.

Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial